OPPENHEIMER – JÁ TEMOS O GRANDE GANHADOR DA TEMPORADA?
- Victor Rangel
- 16 de jan. de 2024
- 3 min de leitura

O filme estreado no Brasil em Julho de 2023 já veio com a promessa de ser um dos projetos mais ambiciosos do diretor inglês Christopher Nolan (Trilogia Batman, Dunkirk, Interestelar), impacta pela sua técnica de captação e mixagem de áudio, fotografia extravagante e efeitos especiais que não vejo nenhum outro cineasta entregando algo semelhante hoje. Essa promessa começa a tomar forma agora que iniciou a temporada de premiações, no Globo de Ouro o longa sobre o físico norte-americano venceu: Melhor Filme de Drama, Melhor Diretor (Christopher Nolan), Melhoor Ator em Drama (Cillian Murphy), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.) e Melhor Trilha Sonora.
Para quem não sabe, um breve parêntese aqui para falar sobre a diferença de efeitos visuais e efeitos especiais. Efeitos visuais são inseridos no filme na pós-produção, ex: personagens virtuais como dragões, por exemplo, cenários, explosões etc. Tudo isso é criado geralmente por uma técnica chamada CGI e inserido após a gravação da cena, aquelas famosas cenas gravadas em pano verde. Nolan preferiu trabalhar unicamente com efeitos especiais, que são criados durante a gravação da cena: Ex: explosões reais, posicionamento de câmera em perspectivas diferentes para alterar o tamanho dos personagens, maquiagens de feridas, sangue... Tudo isso feito com efeitos reais, em tamanho real ou em escalas menores, como foi no caso das cenas de explosão que gravadas com explosivos e artefatos pirotécnicos reais. Isso torna o longa de mais de três horas um banquete do audiovisual.
Além do visual espetacular, com figurinos, que com certeza não serão esquecidos na próxima temporada de premiações, o filme tem o som como o condutor de toda a aflição gerada na trama. Uma trilha e efeitos sonoros que nos fazem emergir nos conflitos do cientista e de todo o arco dramático, a habilidade de Nolan de tencionar a cena, seja com uma música instrumental densa ou até artifícios sonoros como barulho de madeira queimando/quebrando, ventos fortes, estalos de faíscas e é claro, muito barulho de explosão. Um dos artifícios sonoros que me chamou muito a atenção é o choro latente do bebê, filho do personagem, aludindo a consciência perturbada do cientista durante sua jornada de criação da bomba atômica que dizimou duas cidades no Japão durante o final da Segunda Guerra Mundial. Vão precisar suar muito para tirar o premio de Melhor Mixagem de Som das mãos de Nolan.
Assim como complexidade do personagem e da história, Nolan não tem medo de fazer recortes ousados, dando muito mais importância nas camadas de cada personagem do que na cronologia histórica dos fatos, que foi praticamente ignorada e reconstruída numa montagem primorosa. Isso torna o filme muito mais potente do que somente um longa sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, ele traz o ser humano por trás da trama, isso nos faz ficar boquiabertos em muitas cenas, seja pelos ideais bizarros dos EUA ou pelas pessoas que vibram com a criação de uma bomba que traz a promessa de findar a Guerra, trazer a paz mundial. É inevitável não se impactar com a crítica social trazida pelo cineasta. Uma solução belíssima que o diretor deu para separar a trama em duas paralelas foi usar o filme colorido nas cenas onde temos o protagonista em primeira pessoa e em P&B em partes da história onde o protagonista não tem ciência do que está ocorrendo.
Além do peso da história extremamente delicada, temos o personagem principal, que na pele do ator Cillian Murphy (Peaky Blinders, Um Lugar Silencioso II, Batman Begins) fica ainda mais denso em sua atuação que impressiona o expectador. Tenho para mim que este é o personagem da vida de Cillian. Falando em elenco, não podemos deixar de mencionar Robert Downey Jr (Zodíaco, Os Vingadores, O Homem de Ferro), que brilha no papel de Lewis Strauss, chefe da Comissão de Energia Atômica, além da atriz Emily Blunt (Um Lugar Silencioso, O Diabo Veste Prada e O Retorno de Mary Poppins), que rouba algumas cenas mesmo tendo um papel secundário na trama.
Sem sombra de dúvidas, Oppenheimer é o projeto que eleva a trajetória de Christopher Nolan para um lugar muito maior, a consagração de um cineasta ousado e que usa de técnicas ímpares, criando verdadeiras obras de arte inesquecíveis.
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