top of page
Buscar


Hoje é um dia especial para celebrar a magia do cinema nacional, e não poderia estar mais empolgado em compartilhar minha paixão por essa arte que transforma vidas e narra histórias tão ricas e diversas.

 

Além de um refúgio, para mim o cinema e uma fonte inesgotável de inspiração. Crescendo na periferia de São Paulo, a arte foi a minha janela para o mundo. Era nas telas que eu encontrava as respostas para muitas das minhas inquietações e descobria a vastidão da experiência humana. O cinema nacional, em especial, sempre teve um lugar cativo no meu coração, pois é através dele que vejo refletidas as nossas cores, os nossos sons e as nossas histórias.

 

O cinema periférico tem um poder transformador incomparável. Ele capta a essência das comunidades, revelando suas lutas, sonhos e resiliência. Filmes como "Cidade de Deus" e "Bacurau" não só colocam a periferia no centro das atenções, mas também demonstram a força e a riqueza cultural que emergem desses espaços. Esses filmes são faróis de resistência, mostrando que a periferia é fonte inesgotável de talento e criatividade.


Ao longo da minha jornada como produtor e coordenador de eventos no mercado audiovisual, tive o privilégio de contribuir para o lançamento de muitos filmes que carregam a essência do Brasil. Cada projeto me ensinou algo novo, me conectou com talentos incríveis e reafirmou a importância de dar voz a narrativas que muitas vezes são silenciadas. Narrativas LGBTQIAPN+, periféricas,nordestinas, pretas ou produções encabeçadas por mulheres são fundamentais para construir um cinema que realmente represente a diversidade do nosso país.

 

Ser roteirista me permitiu mergulhar ainda mais fundo nesse universo. A escrita é a minha principal ferramenta de expressão, e é através dela que procuro dar vida a personagens e histórias que ressoem com a realidade de tantos brasileiros. O cinema nacional tem uma capacidade única de capturar as nuances da nossa cultura e de promover reflexões profundas sobre quem somos e para onde queremos ir.

 

Nossas conquistas em indicações ao Oscar também são motivo de orgulho. Filmes como "Central do Brasil" e "O Pagador de Promessas" não apenas mostraram a qualidade do nosso cinema, mas também colocaram o Brasil no mapa mundial da cinematografia. Essas indicações são um reconhecimento do talento e da dedicação de todos os profissionais que se empenham para contar histórias genuinamente brasileiras.



Ao longo das décadas de 1950, 60 e 70, o cinema brasileiro passou por uma transformação significativa com o movimento do Cinema Novo. Este movimento, liderado por nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Carlos Diegues, buscou retratar a realidade social e política do Brasil através de uma lente crítica e inovadora. Filmes como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Vidas Secas" são exemplos marcantes desse período, capturando a essência das lutas e resistências do povo brasileiro.


Além das obras mencionadas, o movimento de retomada do cinema nacional também trouxe à tona questões sociais urgentes e promoveu uma reflexão profunda sobre a identidade brasileira. Filmes como "O Que É Isso, Companheiro?" (1997), dirigido por Bruno Barreto, abordaram temas políticos e históricos importantes, como a resistência armada contra a ditadura militar, despertando debates e ampliando a consciência pública. Ao mesmo tempo, produções como “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, não só conquistaram prêmios internacionais, incluindo uma indicação ao Oscar, mas também emocionaram o público ao retratar as conexões humanas profundas no meio.


Esses filmes não apenas consolidaram a confiança do cinema brasileiro no exterior, mas também inspiraram uma nova geração de cineastas a explorar novas perspectivas e a contar histórias autênticas que refletiram a diversidade cultural e social do Brasil. A importância desse período não reside apenas na recuperação da indústria cinematográfica nacional, mas também na sua capacidade contínua de desafiar convenções, ampliar horizontes e amplificar vozes antes marginalizadas, consolidando o cinema brasileiro como uma força vibrante e essencial no para o cinema mundial.



Hoje, ao olhar para trás, vejo o quanto percorremos e o quanto ainda temos a conquistar. O cinema nacional é resistência, é celebração da diversidade e é um poderoso agente de transformação social. Filmes como "Bacurau", "Que Horas Ela Volta?", "Marighella" e "Marte Um" são exemplos brilhantes de como nossas produções podem ser ao mesmo tempo universais e profundamente enraizadas na nossa realidade.

 

Neste Dia do Cinema Nacional, convido todos a celebrarem e apoiarem essa indústria que tanto nos orgulha. Vamos continuar contando nossas histórias, inspirando novas gerações e mostrando ao mundo a riqueza da nossa cultura.

 

A todos os profissionais do audiovisual, meu reconhecimento e gratidão. Que possamos continuar unidos, enfrentando desafios e celebrando nossas conquistas. E que o cinema nacional continue a brilhar, levando nossas histórias cada vez mais longe.



 


"A representatividade no setor audiovisual não é apenas uma questão de justiça social; é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática."





A ascensão dos vídeos verticais trouxe profundas mudanças na produção de conteúdo audiovisual, iniciando uma era de consumo marcada pela rapidez, dinamismo e efemeridade. Essa "TikTokização" reflete as dinâmicas sociais e econômicas atuais. Este texto explora a situação dos profissionais do audiovisual vindos da periferia. Embora esse novo conceito de produção seja promovido como libertador, ele tem sido muito mais desafiador para nós, periféricos.

 

Profissionais deste mercado enfrentam uma demanda crescente para dominar todos os aspectos da produção de vídeo, desde a concepção até a edição final. As empresas, buscando reduzir custos e equipe, exigem que os profissionais sejam capazes de conceber, filmar, editar e publicar conteúdo de alta qualidade em um ritmo acelerado. Essa pressão exacerbada coloca, mais uma vez, os profissionais da periferia em desvantagem, já que frequentemente têm menos acesso a recursos, oportunidades educacionais e conexões na indústria. Mesmo quando possuem essas conexões, raramente são vistos como iguais, sendo relegados a papéis de apoio em um sistema de inclusão superficial. Essa desigualdade limita as oportunidades para os talentos periféricos e empobrece a diversidade de vozes no meio audiovisual, comprometendo a qualidade e a autenticidade do conteúdo produzido. Narrativas autênticas e complexas, especialmente as que emergem das comunidades periféricas, são frequentemente ignoradas em favor de estereótipos simplistas, marginalizando os criadores da periferia e perpetuando visões limitadas e preconceituosas dessas comunidades.

 

Essa exclusão não é apenas uma questão moral, mas também política. Ao limitar o acesso de profissionais da periferia ao mercado audiovisual, fomentamos desigualdades estruturais que minam a coesão social e a democracia. A representatividade no setor audiovisual não é apenas uma questão de justiça social; é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática.

 

Portanto, é um dever da indústria audiovisual adotar políticas inclusivas que promovam a diversidade e valorizem as narrativas autênticas e diversas. Isso inclui o financiamento de projetos liderados por profissionais da periferia, o estabelecimento de programas de mentoria e capacitação e a promoção de práticas de contratação mais equitativas. Nem vou entrar no assunto remuneração, pois isso demandaria um texto separado sobre os reflexos coloniais perpetuados em nosso sistema. Somente através dessas medidas podemos garantir que o setor audiovisual seja verdadeiramente representativo da riqueza e diversidade de nossa sociedade.

 

No TikTok, a estereotipação de conteúdos é muitas vezes sutil, mas poderosa. Uma das formas mais comuns é a simplificação e caricaturização das culturas e identidades de grupos minoritários. Por exemplo, certos estilos de dança, linguagem, moda e comportamentos são frequentemente associados a grupos raciais e socioeconômicos específicos e reproduzidos de forma superficial e exagerada por muitos criadores. Temos uma plataforma que prioriza conteúdos que geram mais interação e visualização, reforçando esses estereótipos ao promover vídeos que se encaixam em determinados padrões estéticos ou narrativos. Isso cria um ciclo onde conteúdos classistas e racistas são amplamente difundidos, enquanto vozes e perspectivas mais diversas são suprimidas ou ignoradas, criando um ambiente tóxico e preconceituoso.

 

Essas práticas contribuem para a perpetuação de sistemas racistas, classistas, misóginos, xenofóbicos e LGBTfóbicos, ao reduzir a diversidade e complexidade das experiências e identidades raciais a estereótipos simplificados e danosos a essas comunidades. Para combater isso, é crucial promover a educação, o diálogo e a conscientização sobre esses temas, bem como implementar políticas e práticas que valorizem e respeitem as vozes e perspectivas diversas na plataforma e fora dela.


 

Atualizado: 12 de abr. de 2024



Durante anos trabalhando com o audiovisual, especialmente com cinema, sempre me orgulhei de participar de grandes lançamentos, pré-estreias repletas de cenografia, iluminação, patrocinadores, talentos e toda a produção que envolve centenas de milhares de reais. Ver esses eventos tomando forma durante a pré-produção e a reação dos convidados me enche de orgulho e satisfação, pelo esforço envolvido para que tudo saia perfeito.



Mas há um lugar especial em meu coração, nutrido de forma única, que me dá energia para lutar pelo que acredito: o Cinema Nacional. O afeto que emana de mim ao participar de lançamentos de filmes feitos por nós, que contam nossa história, nossa potência, vitalidade e multiculturalismo, é imensurável.

No entanto, não é de hoje que sabemos das dificuldades extremas que nosso cinema enfrenta, desde a produção do filme em si até a luta por um lançamento digno de sua grandiosidade. Essa contrariedade se deve a vários fatores: a complexa distribuição das leis de incentivo às pequenas produtoras, a concorrência com filmes de produções milionárias estrangeiras, a dificuldade de apoio do setor privado e, o pior deles para mim, a movimentação sociopolítica conservadora que desvaloriza as leis de fomento à cultura brasileira, impedindo inclusive nosso avanço econômico.



Para exemplificar, vamos nos distanciar um pouco do cenário brasileiro para entender como a não valorização do cinema nacional afeta nosso crescimento sócio-econômico e cultural. Nos últimos anos, vimos a propagação massiva da cultura sul-coreana, seja na música, cinema ou doramas, conquistando pessoas de todas as idades no mundo todo. Esse movimento, chamado de Hallyu ou "Onda Coreana", teve como peça-chave o incentivo do governo sul-coreano à cultura, com um orçamento significativo. Comparativamente, o Brasil tem um orçamento muito menor para o setor cultural, o que impacta diretamente nossa capacidade de promover nossa cultura.




Além das empresas privadas como patrocinadoras, o incentivo cultural do Estado é fundamental para propagarmos nossa rica cultura. Quando o mundo valoriza e consome nossa cultura, alcançamos reconhecimento e nossa autoestima aumenta, mudando completamente a forma como consumimos nosso próprio material cultural. Um exemplo disso é o filme "Parasita", de Bong Joon-ho, que ganhou quatro estatuetas do Oscar em 2020 e diversos prêmios em festivais de cinema internacionais.



Voltando à nossa realidade, superar esses desafios requer uma combinação de apoio governamental, investimento privado, incentivos fiscais, políticas de distribuição mais eficazes e uma conscientização maior do público sobre a importância de apoiar a produção nacional.

Meu desejo mais profundo é que continuemos propagando nossa cultura nas telonas. Acredito que podemos nos tornar um grande polo cinematográfico mundial.



 
bottom of page