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Dois anos atrás, achei super curioso quando anunciaram a cineasta Greta Gerwig, (Adoráveis Mulheres e Lady Bird: A Hora de Voar) como diretora e co-roterista do filme Barbie. Como ela conseguiria manter uma coerência com seus trabalhos anteriores, trabalhos que falam sobre mulheridade de uma forma tão especial, com Barbie, o longa metragem com o apelo mais pop dos últimos anos? Além, é claro, das polêmicas que envolveram a boneca nesses quase 65 anos de vida.


Assim que terminei de assistir Barbie tive a sensação de que a escolha da direção foi perfeita, caiu como uma luva para o roteiro escrito por Noah Baumbach, em conjunto com a própria Greta Gerwig.


O filme acerta em cheio na estética monocromática, em sua grande parte tudo ali é real, indo na contramão dos filmes atuais que esbanjam CGI (o clássico fundo verde), tudo isso em milhares tons de rosa e com muitas cenas de transição com soluções feitas em 2D que deixam o filme ainda mais charmoso além de trazer um ar bem lúdico a jornada da personagem principal.


A riqueza de detalhes vai desde os tamanhos e proporções dos objetos em cena até o movimento dos personagens que em momento nenhum esquecem que se tratam de bonecos de plástico. Os figurinos super coloridos e cheio de referência as bonecas já lançadas são um show a parte, parece realmente que estamos num guarda-roupas gigante de bonecas.


Barbie é um filme com abordagens potentes sobre temas como: o feminismo e o patriarcado, tratado de forma leve, divertida, mas dando o recado de forma pedagógica. A trama brinca com um mundo onde os bonecos Ken são vistos quase como enfeites, sua função é “ganhar o dia chamando a atenção das Barbies”, disputam entre si a atenção das Barbies. Isso soa familiar, não?

Sabiamente, Barbie brinca também com seus próprios pontos fracos, chama a personagem principal, interpretada por Margot Robbie de “Barbie Estereotipada”, já que ela é a única em Barbielândia que não tem uma profissão, todas as demais tem papeis definidos em seu mundo. Falando em pontos fracos, existem menções sobre edições polêmicas de bonecos que saíram de linha, como o “Ken Sugar Daddy” ou cachorro da Barbie que faz cocô e obviamente muita piada com a versão Grávida da boneca mais famosa do mundo  (curiosamente interpretada pela Emerald Fennell, diretora do polêmico longa Saltburn)


A sequência de cenas finais é bem emocionante, traz nostalgia e uma mensagem de esperança, ressignifica a relação entre mãe e filha., tudo de forma inteligente, impactando diferentes gerações.


Apesar das quase 2 horas de duração, filme acaba no seu auge, traz uma última piada que não poderia ser mais engraçada. Deixa saudades já na hora em que os créditos começam a subir.


Vejo o filme Barbie como um clássico instantâneo, um filme repleto de referências cinematográficas e que abraça gerações diferentes, de formas diferentes, assim como a própria boneca da Mattel, que encanta diversas gerações há anos.

 


O filme estreado no Brasil em Julho de 2023 já veio com a promessa de ser um dos projetos mais ambiciosos do diretor inglês Christopher Nolan (Trilogia Batman, Dunkirk, Interestelar), impacta pela sua técnica de captação e mixagem de áudio, fotografia extravagante e efeitos especiais que não vejo nenhum outro cineasta entregando algo semelhante hoje. Essa promessa começa a tomar forma agora que iniciou a temporada de premiações, no Globo de Ouro o longa sobre o físico norte-americano venceu: Melhor Filme de Drama, Melhor Diretor (Christopher Nolan), Melhoor Ator em Drama (Cillian Murphy), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.) e Melhor Trilha Sonora.


Para quem não sabe, um breve parêntese aqui para falar sobre a diferença de efeitos visuais e efeitos especiais. Efeitos visuais são inseridos no filme na pós-produção, ex: personagens virtuais como dragões, por exemplo, cenários, explosões etc. Tudo isso é criado geralmente por uma técnica chamada CGI e inserido após a gravação da cena, aquelas famosas cenas gravadas em pano verde. Nolan preferiu trabalhar unicamente com efeitos especiais, que são criados durante a gravação da cena: Ex: explosões reais, posicionamento de câmera em perspectivas diferentes para alterar o tamanho dos personagens, maquiagens de feridas, sangue... Tudo isso feito com efeitos reais, em tamanho real ou em escalas menores, como foi no caso das cenas de explosão que gravadas com explosivos e artefatos pirotécnicos reais. Isso torna o longa de mais de três horas um banquete do audiovisual.


Além do visual espetacular, com figurinos, que com certeza não serão esquecidos na próxima temporada de premiações, o filme tem o som como o condutor de toda a aflição gerada na trama. Uma trilha e efeitos sonoros que nos fazem emergir nos conflitos do cientista e de todo o arco dramático, a habilidade de Nolan de tencionar a cena, seja com uma música instrumental densa ou até artifícios sonoros como barulho de madeira queimando/quebrando, ventos fortes, estalos de faíscas e é claro, muito barulho de explosão. Um dos artifícios sonoros que me chamou muito a atenção é o choro latente do bebê, filho do personagem, aludindo a consciência perturbada do cientista durante sua jornada de criação da bomba atômica que dizimou duas cidades no Japão durante o final da Segunda Guerra Mundial. Vão precisar suar muito para tirar o premio de Melhor Mixagem de Som das mãos de Nolan.


Assim como complexidade do personagem e da história, Nolan não tem medo de fazer recortes ousados, dando muito mais importância nas camadas de cada personagem do que na cronologia histórica dos fatos, que foi praticamente ignorada e reconstruída numa montagem primorosa. Isso torna o filme muito mais potente do que somente um longa sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, ele traz o ser humano por trás da trama, isso nos faz ficar boquiabertos em muitas cenas, seja pelos ideais bizarros dos EUA ou pelas pessoas que vibram com a criação de uma bomba que traz a promessa de findar a Guerra, trazer a paz mundial. É inevitável não se impactar com a crítica social trazida pelo cineasta. Uma solução belíssima que o diretor deu para separar a trama em duas paralelas foi usar o filme colorido nas cenas onde temos o protagonista em primeira pessoa e em P&B em partes da história onde o protagonista não tem ciência do que está ocorrendo.


Além do peso da história extremamente delicada, temos o personagem principal, que na pele do ator Cillian Murphy (Peaky Blinders, Um Lugar Silencioso II, Batman Begins) fica ainda mais denso em sua atuação que impressiona o expectador. Tenho para mim que este é o personagem da vida de Cillian. Falando em elenco, não podemos deixar de mencionar Robert Downey Jr (Zodíaco, Os Vingadores, O Homem de Ferro), que brilha no papel de Lewis Strauss, chefe da Comissão de Energia Atômica, além da atriz Emily Blunt (Um Lugar Silencioso, O Diabo Veste Prada e O Retorno de Mary Poppins), que rouba algumas cenas mesmo tendo um papel secundário na trama.


Sem sombra de dúvidas, Oppenheimer é o projeto que eleva a trajetória de Christopher Nolan para um lugar muito maior, a consagração de um cineasta ousado e que usa de técnicas ímpares, criando verdadeiras obras de arte inesquecíveis.

 

Atualizado: 16 de jan. de 2024




Sem qualquer tipo de dúvida, temos o filme mais polêmico de toda a temporada. Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas a garantia de que esse será um dos assuntos na sua roda de amigos, cinéfilos ou não, é um fato. Saltburn é um intruso entra sem pedir licença, desestrutura toda a sua casa e você ainda agradece por toda a bagunça.


Emerald Fennell, cineasta que assina a direção e o roteiro já havia se mostrado lindamente maluca quando em 2020 nos trouxe o longa Bela Vingança, protagonizado por Carey Mulligan (O Grande Gatsby, Orgulho e Preconceito, Shame), ganhando Oscar de Melhor Roteiro da temporada, desta vez Fennel reafirma sua assinatura, tanto estética quanto de perturbação mesmo (rs), por trazer tantas bizarrices que funcionam na tela como um clássico do cinema.

Saltburn eleva todas suas cenas a máxima potência a ponto de se tornar surreal, toda a história é bem absurda e você embarca nisso sem muitos questionamentos, isso traz a grande graça de toda a obra, é tudo exagerado, tudo muito subversivo, kafkiano a começar com o protagonista, uma “Bixa Trambiqueira” que vai de contramão a praticamente tudo que já vimos como fenótipos LGBT já trazidos para as telonas. (Estamos cansados de ver gay sofrendo no cinema).


São infinitas as referências cinematográficas como: O talentoso Ripley (1955), de Patricia Highsmith, Romeu + Julieta (1996), de Baz Luhrmann, Nosferatu (1922), de F. W. Murnau e tantos outros clássicos, o longa esbanja arte pop acertando em cheio na ambientação de meados de 2000. Usa lindamente as cores como termômetro da sanidade emocional dos personagens em certas cenas, como no “parabéns pra você” com o protagonista ou o almoço com cortinas fechadas logo após uma grande tragédia, essas e outras são trazidas todas num vermelho perturbador (Explendido).


Assim como em Bela Vingança, seu primeiro filme de grande repercussão, o roteiro de Saltburn começa num lugar bem despretensioso, a princípio Oliver, interpretado por Barry Keoghan (Batman, Dunkirk, Os Banshees de Inisherin), um cara pobre que entra para a Universidade de Oxford onde estudam apenas milionários e se depara com o popular e riquíssimo, óbvio, Felix, vivido pelo promissor, Jacob Elordi (que entra nos holofotes do mainstream pelo papel de Nate na série Euphoria e este ano esbanja profissionalismo em Priscilla onde vive Elvis Presley), a premissa nada inédita não promete muita coisa e isso mesmo que faz o filme ser tão assertivo já que escalona de forma zero sutil trazendo cenas bizarramente belas, cheias de erotismo e subtexto gay. (Uma pena não conseguir falar muito delas sem dar spoiler).


Se o filme leva alguma estatueta do Oscar? Acho um pouco difícil, temos como seu grande concorrente como Melhor Roteiro Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet, ainda não lançado no Brasil, mas que coleciona mais de 15 prêmios pelos festivais e mostras em que passou.


Saltburn se apresenta como puro entretenimento, sem compromisso com a verdade ou sem maiores criticas sociais e mesmo assim entrega uma excelente trama que vai te deixar boquiaberto, além da sua estética impecável mente perturbadora cheia de opulência. Esse é um filme para se assistir mais de uma vez (se você tiver estômago rs), muita coisa acontece na tela que acaba passando despercebido como os presságios das desgraças que irão acontecer, toda tragédia é anunciada cenas antes, basta prestar muita atenção aos detalhes isso faz com que o filme siga sendo discutido em mesas de bares e redes sociais, a cada dia uma nova teoria é levantada sobre essa obra tão chocante e enigmática.

 
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